BRUNO JOSÉ DE MATTOS,
O Estado de S.PauloA 2.ª fase da Copinha se inicia neste fim de semana. Das 96 equipes inscritas restaram 32. Participaram mais de 2.400 jovens, com idade limite de até 18 anos, e que representaram times de todos os Estados do Brasil. Para a próxima fase da competição continuam cerca de 800 promessas do futebol.
O aspecto comum desses atletas é o imaginário de vir a ser um grande jogador de futebol e, com isso, colher os frutos (principalmente financeiros) de uma carreira promissora. Nesse contexto, a Copinha é considerada o vestibular do futebol. É a última etapa que os garotos das categorias de base percorrem antes de chegar à carreira profissional, quando conseguem. Sabe-se que uma pequena parcela deste coletivo atingirá este patamar. Infelizmente, a maioria encerra as suas carreiras com o fim da competição.
A sustentabilidade desse sonho envolve a dedicação de longos anos por parte do jovem e dos seus familiares, além de outros sacrifícios em busca de um futuro melhor. Em trabalhos de atenção psicológica esportiva realizada com eles, obtêm-se relatos expressivos. A família deixa de pagar as contas do mês, além de passar fome para poder comprar uma chuteira nova ao filho. O mais cruel dos fatos, que ocorre com frequência, é a abdicação dos estudos. As rotinas intensas dos treinamentos os afastam da escola e assim os comprometem para o futuro. É um tiro no escuro em busca de um sonho.
Para a Psicologia do Desenvolvimento, eles ainda se encontram na adolescência, fase marcada pela formação da identidade do indivíduo. O fim da Copinha e da carreira de jogador, para aqueles que serão dispensados, representa um conflito de identidade significativo. É comum questões existenciais surgirem nas mentes desses jovens atletas antes do início da competição : "E agora, quem sou eu no mundo? O que farei da minha vida? Terei o mesmo valor para os meus familiares e amigos?" Por conta desses pensamentos negativos, são identificados, vastamente, sintomas característicos de ansiedade negativa nesses jovens atletas: agressividade, compulsão, intolerância, individualismo exacerbado, desatenção. O medo de não ser jogador impede o prazer de jogar futebol.
Urge um trabalho psicológico para a formação desses jovens no futebol de base brasileiro. Os times mais vitoriosos na Copinha podem não ser os que jogarão o melhor futebol, mas sim os que estarão mais preparados psicologicamente. * MESTRE EM PSICOLOGIA DO ESPORTE